O aumento do nível de água em bacias de retenção, a progressão de ravinas em alguns municípios, habitações inundadas e ruas alagadas e intransitáveis são para já as consequências da intensa chuva que caiu hoje em Luanda. O MPLA vai acusar a chuva de ser arruaceira…
Segundo o porta-voz do comando provincial de Luanda do Serviço de Protecção Civil e Bombeiros, Faustino Minguês, os municípios mais afectados pelas chuvas que começaram na madrugada e terminaram às primeiras horas do dia foram Viana, Cacuaco, Luanda, Kilamba Kiaxi e Talatona.
As autoridades que continuam a trabalhar nos dados estatísticos, provenientes das nove comissões municipais de protecção civil de Luanda, não têm o registo até ao momento de mortes.
“Neste preciso momento temos também o registo da progressão de algumas ravinas com maior destaque nos municípios de Viana, Cacuaco e Luanda, no distrito urbano do Ngola Kiluanji”, disse Minguês à Lusa.
A queda de algumas árvores em diversos bairros de Luanda consta ainda das ocorrências reportadas pela população às comissões municipais de protecção civil, ao Centro Integrado de Segurança Pública e à sala de operação do comando provincial de Luanda do Serviço de Protecção Civil e Bombeiros.
Em Abril de 2021, os luandenses enfrentaram as consequências das oito horas de intensa chuva que deixou um rasto de destruição, com mortes, casas submersas, ruas alagadas e amontoados de lixo na icónica baía da capital angolana.
Culpados? Os que escapam desde 1576 e não, obviamente, o MPLA que só está no Poder nos últimos… 46 anos.
No interior dos bairros periféricos de Luanda, a paisagem transformou-se em intermináveis lagoas, dificultando a mobilidade de viaturas e cidadãos. Crianças e adultos não têm, por vezes, outra alternativa senão atravessá-las.
Munícipes da capital angolana clamaram por “resposta urgente” das autoridades para se verem livres das águas que circundavam as suas residências e temiam que o pior ainda não tivesse acabado.
A precipitação intensa arrastou enormes amontoados de lixo, visíveis em várias circunscrições da capital angolana, e na baía de Luanda, ameaçando a biodiversidade marinha com milhares de garrafas e sacos de plástico entre os resíduos.
No final de 2017, o Governo, na tentativa de mostrar que, ao contrário do que se diz, Roma e Pavia se fizerem num dia, disse que iria começar o processo de descentralização administrativa, anunciado anteriormente pelo Presidente da República, João Lourenço, com a área da gestão do saneamento em Luanda, passando competências para o governo provincial.
De acordo com um despacho presidencial de Novembro, João Lourenço aprovou um reajuste na Unidade Técnica de Gestão do Saneamento de Luanda (UTGSL), considerando a “necessidade de se aprofundar o processo de desconcentração” da administração do Estado.
No caso das alterações à UTGSL, que ficou sob superintendência do governador da província de Luanda – a primeira medida concreta do género aprovada por João Lourenço -, inseria-se na “consolidação das bases do Processo de Descentralização administrativa que conduza à efectiva aproximação dos órgãos de decisão às populações, dotando-as de capacidade institucional para assegurarem com a adequada eficiência e eficácia o serviço público para o qual são vocacionadas”.
Entre outras alterações, o despacho assinado por João Lourenço definia que compete ao governo provincial de Luanda nomear e exonerar o director da UTGSL, aprovar o respectivo programa de acção, modelo de organização e funcionamento.
Estava também definido que a UTGSL coordena todo o processo da “expansão dos sistemas de drenagem pluvial e recolha, tratamento e rejeição final das águas residuais”, para “garantir-se a funcionalidade e a observância dos padrões de qualidade das novas urbanizações”, de acordo com o programa estratégico para a província de Luanda, actualmente com mais de sete milhões de habitantes.
Assumia ainda, entre outras competências, a coordenação e execução de eventuais expropriações por utilidade pública, bem como “elaborar e implementar” o projecto de macrodrenagem na cidade de Luanda, além de gerir o programa de saneamento da província.
Saneamento básico em Luanda?
Em Março de 2017 morreram pelo menos 11 pessoas em Luanda em resultado das fortes chuvas que inundaram mais de cinco mil casas, o desabamento de algumas e desalojando perto de 400 famílias. Como se sabe, na versão dos donos do país (o MPLA), a culpa de a chuva não respeitar as ordens superiores é dos estrangeiros, no caso dos arruaceiros portugueses e da UNITA, é claro.
As chuvas inundaram ainda duas escolas, sete centros de saúde e uma igreja, sobretudo nos municípios do Cazenga, Cacuaco e Viana. Para tentar minimizar os estragos das chuvas foram realizados trabalhos de sucção das águas e abertura de valetas.
No entanto, as autoridades alertaram para a iminência do enchimento e transbordo de várias bacias de retenção de águas das chuvas, bem como o alagamento da maior parte de ruas secundárias e terciárias da periferia de Luanda.
Entendamo-nos. Tudo o que de errado se passa em Angola foi, é e será culpa dos portugueses ou da UNITA, ou dos dois em conluio. A independência poderia ter chegado há 500 anos mas só chegou há 46. A culpa é dos portugueses. Os presidentes de Angola (todos do MPLA) poderiam ser brancos, mas isso não aconteceu. A culpa é dos portugueses. Angola poderia ser um dos países menos corruptos do mundo, mas não é. A culpa é dos portugueses.
Recorde-se que, em tempos recentes, o ex-Presidente da República (que só esteve no poder 38 anos) José Eduardo dos Santos considerou que a província de Luanda vivia “graves problemas decorrentes da situação complicada herdada do colonialismo, mormente no domínio das infra-estruturas e saneamento básico”.
Sua majestade, então rei do país e hoje apenas um marimbondo conluiado com as forças do mal, intervinha na abertura de uma reunião técnica, dedicada à problemática dos constrangimentos sócio-conjunturais da cidade capital, e que juntou alguns membros do Executivo e responsáveis da província em busca de fórmulas mais consentâneas para a implementação dos projectos decorrentes de programas aprovados há alguns anos.
Segundo o então Presidente, as dezenas anos de guerra que o país viveu (por culpa dos portugueses, é claro) não permitiram a mobilização de recursos humanos e financeiros para satisfazer todas as expectativas das populações.
Para o MPLA, os desafios são enormes, as despesas cresceram muito e, em certos casos, “superam a nossa capacidade”, daí a necessidade de recorrer-se à sabedoria no domínio da gestão parcimoniosa.
José Eduardo dos Santos disse também ser preciso trabalhar com base em prioridades “atacando os problemas essenciais”, que, por sua vez, permitam a resolução de outros, decorrentes dos eixos fundamentais.
Não será ocasião de o Pravda do regime recordar (reeditar, republicar) que a empresa lusa Mota-Engil foi contratada para reabilitar todos os passeios e ruas da cidade de Luanda e que (citamos o Jornal de Angola) “durante as obras, a construtora vedou com alcatrão toda a rede de esgotos, sarjetas e valas de drenagem das ruas. Quando nesse ano as fortes chuvas chegaram, as ruas ficaram transformadas em rios e no sítio dos esgotos abriram-se crateras que ainda hoje se vêem”?
A afirmação era apenas uma, mais uma, monumental mentira, como a empresa demonstrou logo a seguir. Mas, como dizia o mais acérrimo adversário do MPLA, Jonas Savimbi, depois de se puxar o gatilho não há desculpas que alterem a trajectória da bala.
E depois não queriam que a rapaziada critique Portugal, mesmo que tenha de se descalçar para contar até 12. Então a Mota-Engil “vedou com alcatrão toda a rede de esgotos, sarjetas e valas de drenagem das ruas”? Isso é coisa que se faça? A ideia seria dar razão ao MPLA quando este fala da “situação complicada herdada do colonialismo, mormente no domínio das infra-estruturas e saneamento básico”. Mas, convenhamos, poderiam não ter vedado “com alcatrão toda a rede de esgotos, sarjetas e valas de drenagem das ruas”.
“Com a acumulação de charcos e lixo, as condições de saúde na capital angolana degradaram-se. A cidade foi assolada por um surto de febre-amarela. A crise só foi ultrapassada com a substituição do governo provincial”, escreveu o Jornal de Angola. E escreveu muito bem, ou não estivesse a reproduzir o recado de um líder que até conseguiu pôr o Rio Cuanza a desaguar na foz e não na nascente…
Com todo este cenário, é bom de ver que Portugal para se redimir de todos os seus históricos erros em relação a Angola, deve rapidamente pedir desculpas às terças, quintas e sábados e pedir perdão às segundas, quartas e sextas. Aos domingos caberá à UNITA pedir desculpas.
Folha 8 com Lusa